CELSO ARNALDO ARAÚJO
Revista Veja
Criada em 2003 como secretaria especial para “formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e fomento da produção pesqueira e aquícola”, nos sete primeiros anos a pasta esteve posta em marasmo ao nível dos lambaris, sob os cuidados de dois burocratas semi-invisíveis, José Freitsch e Altemir Gregolin, até receber de Lula, em 2009, o caniço, o samburá e a rede de arrastão dos ministérios “aparelhados” ─ instituídos exclusivamente para conchavos partidários, negociatas diversas e acomodação da vagabundagem companheira.
Ideli Salvatti, a primeira “ministra” dessa nova fase, tinha a seu dispor uma equipe de 67 funcionários ─ cuja importância, no conjunto da obra, pode ser medida por um exercício de hipótese: será que o extermínio sumário desse ministério de águas turvas afetaria o destino de uma única tilápia ou do mais carente dos caiçaras? Examine-se o quadro da pesca do Brasil antes e depois da farsa.
O sucessor de Ideli no falso ministério foi um sabujo chamado Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira, cuja mediocridade adaptou-se bem à insignificância funcional da pasta ─ leitor diário e inveterado dos principais jornais e portais do país, incluindo os obituários, não me recordo de ter lido qualquer menção a ele ou à “Aquicultura” brasileira nos oito meses em que essa sumidade teve status de ministro. Dizem ter sido demitido em férias, como é próprio dos sabujos, sem quê nem porquê.
O Ministério da Pesca e da Aquicultura agora pertence ao “bispo” senador ou senador “bispo” Marcelo Crivella ─ não importa a ordem, um termo desmerece o outro. Ingenuamente, analistas de bom calibre questionaram que a pasta tenha sido entregue a quem provavelmente só conhece peixe da travessa de bacalhau do Antiquarius. Menos mal, não apelaram para a passagem bíblica da multiplicação dos peixes a justificar a unção de Crivella como ministro ─ os “bispos” da Universal só conhecem e citam as passagens do Livro Sagrado que embasam ou estimulam, mesmo alegoricamente, o assalto pecuniário à fé dos fiéis.
Digo ingenuamente, para não dizer cinicamente, porque a última coisa que Dilma espera de seu novo ministro da Pesca é que entenda de pesca ─ como não entendiam Ideli e Luiz Sérgio. Este ficou no cargo durante o breve interregno em que caía um ministro ladrão atrás do outro ─ o material de manobra então era melhor e mais nobre para a gatunagem. Agora que a reforma que nunca começou foi encerrada, o Ministério da Pesca voltou a ser a única reserva técnica para os conchavos. A pasta foi criada não para entendidos em piscicultura, mas para experts na pior e mais indecente forma de fazer política que caracteriza até aqui os nove anos de lulismo.
No caso específico de Crivella, o Ministério serve de isca podre para as eleições municipais paulistanas, coisa de peixe graúdo, e para tapear os ferozes e insaciáveis barracudas da bancada evangélica ─ que reúne as figuras mais diabólicas do jogo político contemporâneo.
Mesmo sendo uma excrescência, o uso permanente do Ministério da Pesca e Aquicultura pela presidente Dilma como peão de sacrifício no xadrez imundo do tabuleiro da base aliada é uma ofensa às criaturas marinhas ─ e a todos que não respiram bem nesse mar de lama.
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