‘‘Eu vivi o descaso, a política da fome e a exclusão social. Aprendi muito. Hoje sou uma pessoa melhor. Tenho outra visão da vida’’. A afirmação é da londrinense Walkiria Benedeti Cardoso Araújo, que passou um ano no Maranhão, entre 2010 e 2011, lecionando na Faculdade de Balsas (UniBalsas), no sul do Estado.
Para ela, é difícil expressar em palavras tudo o que vivenciou durante este período.
" Enxerguei de perto e ‘senti na pele’ o que a maioria das pessoas só vê na televisão" diz.
Bacharel em Direito, com duas especializações – em Bioética e Direito Público com ênfase em execuções penais – e mestrado em Direito Negocial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Walkiria ficou muito interessada quando soube que a Faculdade de Balsas estava contratando professores para o curso de Direito. ‘‘Queria conhecer a realidade de lá. Enviei o meu currículo e logo acertamos tudo. Quando vi já estava com a passagem em mãos. Inicialmente fui sozinha e depois de 40 dias meu marido foi também’’, lembra.
O fato de o Estado do Maranhão apresentar IDH(Índice de Desenvolvimento Humano) entre os menores do Brasil, pouco mais de zero, pesou para Walkiria aceitar o desafio. Na época em que embarcou, ela já pesquisava há mais de oito anos a mistanásia, um tipo de eutanásia social, que significa a ‘‘morte da dignidade humana’’.
Em uma das regiões mais pobres do Brasil, ela reuniu subsídios para publicar um livro sobre o assunto. O projeto está em andamento, mas ainda não tem data definida para ser finalizado. ‘‘Entrei nas comunidades, conversei com as pessoas, senti como elas vivem. Tive um choque cultural, pois é tudo muito diferente.
"Conheci a realidade da miséria’’, ressalta.
Eu chorei muito’’, conta Walkiria, lembrando que chegou ao ponto de uma aluna dizer que a turma não estava entendendo o que ela dizia nas aulas. ‘‘Nesse dia fui para casa inconformada. Precisei mudar a forma de dar aula. Comecei a dar o básico, apenas o necessário’’.
A passagem da londrinense pelo Maranhão não passou despercebida.
Ela ficou incorformada ao perceber o poder da família Sarney, que domina o Maranhão há quase 50 anos.
‘‘Eu me pergunto quando a família Sarney vai devolver o Maranhão ao Brasil. Lá a política manda e a realidade social é um ‘caos’’’, considera.
Diante disso, e após ouvir inúmeras queixas de alunos, orientou uma turma, cuja maioria estava na segunda graduação, a formar um Comitê de Ética e Cidadania, acionar o Ministério Público e questionar as injustiças. ‘‘Era preciso fazer alguma coisa. Como professora não podia deixar de passar o meu conhecimento. Mas admito que senti medo.
Comecei a incomodar, tanto que o prefeito de Balsas (Chico Coelho - PMDB) queria me conhecer, mas isso acabou não acontecendo’’, relata, acrescentando que o aluno que encabeçou o grupo chegou a receber ameaça de morte. Segundo ela, a manifestação dos alunos aconteceu, mas nada mudou. ‘‘A realidade continuou a mesma. A única coisa que aconteceu é que o aluno que liderava o grupo foi demitido de seu emprego. Ele era repórter’’, lamenta.
Como o povo nordestino apesar das inúmeras dificuldades, Walkiria não se arrepende de tudo o que viveu. Após um ano, quando o contrato com a faculdade terminou, decidiu voltar para Londrina. Entre as experiências mais marcantes, ela destaca o fato de ter conhecido o povo nordestino, que segundo ela, é guerreiro e feliz. ‘‘As pessoas de lá não são infelizes. Pois não conhecem o que é bom na vida. Não sabem o que é teatro, cinema, shopping. Não são ambiciosas’’, define.
Outra característica marcante é a religiosidade. ‘‘São católicos fervorosos. Vão para as ruas celebrar as festas populares’’, observa Walkiria, que aos poucos está retomando a sua vida pessoal e profissional. Atualmente é docente da Faculdade Dom Bosco de Cornélio Procópio.
Fonte:Folha de Londrina
Além da pobreza, a professora ficou chocada quando começou a lecionar e se deparou com alunos analfabetos funcionais no curso superior. ‘‘Fui com garra para dar a melhor aula possível. Tenho especializações, mestrado. Mas quando conheci os alunos me deparei com uma realidade muito diferente.
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